Motivado pelas meditações do Castelo Forte 2012 neste mês, andei folhando algumas páginas do Antigo Testamento e constatei que NATÃ foi, no verdadeiro sentido, um amigo do Rei. Sim, por que há um falso e pejorativo sentido para estas palavras. Certa pessoa entrou numa empresa “com todo o gás”. Mas logo no primeiro dia um colega “melou” o seu entusiasmo quando lhe disse: “Esquece, aqui só vai pra frente quem é amigo do rei.” Manuel Bandeira (Recife-BR, 1886-1968) já em seu poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, conta as vantagens e regalias que lá terá. E o motivo: “Lá sou amigo do rei”. Contudo há pessoas que já constataram e a assim propagam que “rei não tem amigos, só súditos e servos”. Creio, porém, que os reis também precisam de amigos, não para comprá-los com favores e benesses. Mas para presença e apoio e, quando necessário, repreensão e correção. Nisto se resume a verdadeira amizade.
Neste sentido sim, Natã foi amigo do rei Davi, verdadeiro “presente de Deus” (significado no nome Natã em Hebraico). Discípulo de Samuel, Natã, filho de Atai (1 Cr 2.36) foi um profeta que viveu durante o período do reinado de Davi e Salomão, em Israel (2 Cr 9.29). Recebeu a missão de cuidar de Davi após a morte de Samuel. E se torna o grande conselheiro e amigo do rei Davi durante o seu reinado, sempre ajudando o rei nos momentos mais difíceis. Assim, é usado por Deus tanto para repreender como para confortar, orientar e apoiar Davi.
Nas diversas intervenções em que Natã teve que se fazer presente na vida de Davi, ele não apontou de imediato os seus erros, nem se portou com atitude acusadora. Mas conduziu Davi a reconhecer seus desvios do caminho. Foi sempre levado, a refletir sobre suas atitudes, aguçando, deste modo, a sua consciência como homem e servo de Deus. Foi assim quando do desejo de Davi construir um templo. Natã aprova e depois intervém com a orientação de que esta seria a tarefa de um filho de Davi, como sucessor seu (2 Sm 17 e 1Cr 17). Também aconteceu isso quando Natã conta a história dos dois homens, um rico e outro pobre, fazendo Davi mesmo dar sua própria “sentença” a respeito de sua trama contra Urias, marido de Bate-seba (2 Sm 12). De forma semelhante, ao final da vida de Davi, Natã, juntamente com Bate-seba, intercede em favor de Salomão acerca da ascensão de Salomão ao trono, pretendida por Adonias, outro filho de Davi. Natã aguarda para agir somente depois de Bate-seba fazer a sua parte. Ele entrou na hora “h”, “se ajoelhou diante do rei e encostou o rosto no chão” e “confirmou” a história da mãe de Salomão. Tal “intervenção” de Natá leva Davi a cumprir sua promessa e fazer de Salomão seu sucessor (1 Rs 1). Natã, um “amigo do rei” no mais verdadeiro sentido da palavra.
No sentido popular, buscar ser amigo do rei, com “segundas intenções” fere a essência cristã. Mas ser amigo de coração e doação, de quem tem e quem não tem poder ou destaque social, isto sim é bíblico e desejável em nosso viver. Vislumbrar uma vida cristã sob esta ótica da amizade favorece o crescimento e o discipulado. Um viver sob a ótica desta amizade abre caminhos para a confiança e, por consequência, desenvolvimento pessoal e social, espiritual e educacional. Favorece o processo de ensino-aprendizagem de um discípulo. Mostra um ensinar-aprender pela via do protagonismo e para a autonomia. (Ilustração: Natã, à direita, avisando o Rei Davi. Por Matthias Scheits - Fonte: wikipedia)