sábado, 14 de janeiro de 2012

BENÇÃO

BENÇÃO
(Prédica que proferi em 1º/01/12-na Martin Luther- e vou proferir amanhã-na Cruz-Hauer - Seguindo meu ABC-homilético)


(Atualmente)
O tema da “Benção” é muito sugestivo e especial para estes primeiros domingos do Ano Novo. Um tema de certa forma “controverso” pela forma com que atualmente se vê em várias igrejas oferecendo uma “benção especial”(para cada dia), muitas vezes em troca de “donativos”(ofertas) – as vezes numericamente escalonadas – para a “missão” da igreja... a benção como um verdadeiro “negócio” com Deus.

(Biblicamente)
O texto bíblico que proponho para meditação e inspiração para estudo do tema é por de mais conhecido. Trata-se da “benção (a)arônica” pronunciada geralmente no final de cada culto ou celebração evangélica-luterana. (dias atrás ouvi o compartilhar de uma amiga/irmã que por anos orava toda noite esta benção no leito de morte da mãe...).
Proponho ler o texto em três vozes/tempos:
Números 6.22-23(vc) + vv.24-26(comunidade) + v.27(vc)
Lutero, desde os tempos da Reforma, indicou este texto (ao lado do Salmo 67.7ss – HPD 376) como texto de benção final do culto. Nestes escritos de 1523/6 Lutero explica e interpreta esta “BENÇÃO” de forma Trinitária:
v.24 = Ele vê destacada a ação CRIADORA do Pai
v.25 = Ele vê expressa a ação REDENTORA (a obra de Cristo)
v.26 = Ele vê apontada a ação do ESPÍRITO SANTO (concedendo PAZ eterna)
Esta é uma interpretação cristã muito bonita e legítima de Lutero. Que nos ajuda a entender, dar e receber esta “benção” melhor. Porém o texto em sua base hebraica original (monoteísta) tem muito mais a nos ensinar:
Após a saída ou libertação do Egito o povo inicia sua primeira peregrinação pelo deserto chegando ao MONTE SINAI. Neste lugar e nesta primeira parada, Deus realiza a dádiva da “TORÁ”: todas as leis fundamentais do povo de Israel. E um dos blocos de “acontecimento do Sinai” (que vai de Ex. 19 até Nn 10.11) é o conjunto de normas relativas à tenda, ao templo, ao culto bem como aos Sacerdotes.
Arão fora escolhido par oficiar na Tenda, os Cultos. Neste conjunto de Normas e regras práticas sobre procedimentos do Sacerdote (pastor!?) está a INVOCAÇÃO DA BENÇÃO como ato litúrgico importante na vida e fé do povo.

(Concretamente)
Mas afinal o que é a Benção? O que ela significa para nós hoje? E qual a forma correta de entende-la, dá-la, recebê-la?
Um colega destacou (no PL 36) a seguinte definição que ele rebuscou em um dicionário bíblico alemão:
“BENÇÃO É A AFIRMAÇÃO DA PLENITUDE DAS FORÇAS DIVINAS POR MEIO DE PALAVRAS (E GESTOS, acrescentaria eu) ABARCANDO UM EMPODERAMENTO ABRANGENTE RUMO À PLENITUDE DE VIDA.”
Na semana em que preparava este texto conversava com minha esposa sobre “BENÇÃO” e ela se lembrou de como a mãe dela ao se despedir dela, quando saia de casa por qualquer motivo que fosse, sempre dizia: “- VAI COM DEUS, MINHA FILHA!”. Minha esposa me testemunhou que aquilo soava, e ela assim o recebia, como uma ORAÇÃO DE BENÇÃO e que Deus ia mesmo com ela, protegida para as lidas da vida naquele dia.
Quando Lutero comentou este texto de Números 6 ele disse que:
“A FORÇA VIVIFICADORA DA BENÇÃO REFAZ AS ENERGIAS E CAPACITA AS PESSOAS PARA A RESISTÊNCIA, TENDO A PAZ DEFINITIVA COMO ELEMENTO LINEAR E SIGNIFICADOR DA CAMINHADA.”
Há um erro em só relacionar BENÇÃO com o ganho de bens materiais, boas notícias, bons “vencimentos” no final do mês. A benção que invoca a PAZ também acontece quando ela se dirige para dentro de situações no mundo, no dia a dia, em que as pessoas efetivamente NÃO vivem em PAZ, mas são atribuladas por guerras, conflitos e tensões de todo tipo.
Conheço uma pessoa “evangélica” que quando nos encontramos ela sempre, diante de alguma novidade boa, material ou não, ela exclama “Ôh glória!”, “Que benção!” O marido dela é falecido. Sofreu por dois “longos” anos com um câncer de pele que ao final espalhou metástases pelo pulmão. A esposa, ainda no leito de morte do marido, orava pela “benção da cura”. Minha esposa e eu agradecíamos pela “Benção da vida” e orávamos pela “benção da Paz” e da força para que se renovasse sempre nele assim como estava com ele até ali.
Nesta interpretação de Lutero, a BENÇÃO somente pode ser recebida como elemento de graça e dom; ninguém pode construir por si só as bases da benção. Contudo, a recepção graciosa da benção não isenta-nos da responsabilidade por sua manutenção e por sua ação.
A BENÇÃO é uma fala, uma alocução, mas em geral está conectada e acompanhada de um gesto: - imposição de mão; - levantar os braços; - um abraço; - um beijo. Ou seja, a benção tem um poder e uma função relacional, de troca de reciprocidade, de circularidade. Ou seja, a BENÇÃO não é uma ação unilateral. Talvez o melhor exemplo disso seja Abraão: ELE É ABENÇOADO POR DEUS E RECEBE UMA INCUMBÊNCIA: “SÊ TU UMA BENÇÃO” (Gn 12.2s + Gl 3.8s).
Ou seja, a BENÇÃO que recebemos deve ser passada a diante na forma com que vivemos com nossos semelhantes.
Um último aspecto que ainda gostaria de repartir com vocês sobre o tema da BENÇÃO é que, conforme o Antigo Testamento:
O DAR E RECEBER A BENÇÃO INCONDICIONAL DE DEUS DEPENDE UNICAMENTE DO AGIR SOBERANO DE DEUS. AGORA O MANTER ESTA BENÇÃO ESTÁ CONDICIONADA TAMBÉM PELO NOSSO AGIR COERENTE E CONDIZENTE COM ESTA BENÇÃO.
Quando minha esposa lembrou-se do que a mãe dela sempre dizia - “Vai com Deus” eu disse: “Que benção divina bonita, transmitida por Deus pela fala da mãe!” Mas daí eu disse, de nada adianta se a gente recebesse essa BENÇÃO dela antes de viajar, por exemplo, e a gente seguisse em viagem a 140 km por hora numa estrada onde o limite era 80 ou 100! Vocês me entendem?
Quero rogar sobre todos vocês a benção incondicional de Deus neste dia para que nosso viver neste novo ano seja condicionado por um agir cristão afinado com esta benção, este Deus. Amém!
(A imagem é um saleiro. Quando você serve o sal já "abençoa" o alimento)

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